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sexta-feira, janeiro 20, 2006

As brumas desprendem-se do seu fundo quente, a perderem-se para sempre embrenhadas à margem dos pensamentos, agora soltos das formas ancestrais deixadas nos fantasmas de fumaça, suspensos ausentes da sua matéria.

Desperto em desespero, o livro ilustrado de imagens carregadas de palavras abre-se ao toque do nevoeiro do cigarro, desencantado dos segredos queimados ao vento pelo tempo, de volta ao lugar onde sempre esteve, a si mesmo e não a mim.
Eu era apenas uma personagem imaginada pelos contornos da minha vontade, era quem mantinha aberta a passagem do tudo para o outro lado, por entre rituais de pensamentos rápidos gravados em palavras crípticas, por entre o peso do mundo do passado a cair, a obstruir sentidos, a desmoronar-se à minha volta e dentro de onde eu era.
Quando, a meu convite, percorreste as ruas vazias do Nada, achaste que as palavras talhadas na pedra fria do pensamento eram tuas, e àquilo deixaste como se a tudo tivesses dominado, como se todo o improvável do Universo e os números extravagantes encontrados em galáxias distantes coubessem no teu bolso. Em parte tinhas razão, porque é verdade que vertes lágrimas invertidas, vê-te a ti mesmo longe do sal com que gravas o tempo e não sentes falta da carne da tua imagem no espelho enquanto vives no sentimento alheio que pressentes como dádiva.

Mas nem este mundo nem esta visão já são minhas, o suporte do Nada ruiu bem debaixo dos nossos pés, com grande estrondo e umas palavras amargas. E já não és mais tu, ficaste perdido, mais que guardado, naquele livro de imagens estranhas. E eu seria quem realmente sou, se aqueles cinco minutos de tempo tragados por aquela inusitada singularidade pudessem ser reencontrados, e eu pudesse tropeçar de novo naqueles paralelos entranhados pela água da chuva, tão antigos, cobertos daquela água miúda que contém todos os meus sonhos de Fevereiro...