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terça-feira, fevereiro 13, 2007

Pouco a pouco, como nada acontecia, o presente tornou-se passado. Cada cheiro, voz e imagem só lembravam coisas de tempos remotos, ganhavam a sua autenticação num mundo já descoberto, e assim os dias nasciam e morriam num écran TFT. As poucas coisas que ainda viviam, como a efervescência das latas de coca-cola, passavam depressa demais para entrarem na consciência, e nesta pressa em existir eram igualmente coladas na cartolina branca e velha do tempo.
Quem eras, como todo o resto sumiu-se-me. Num dia o vazio preenchido de desejos que devia ser quem tu és simplesmente desapareceu como conceito, foi dar uma volta e nunca mais regressou. Perdeu-se pelo caminho e a sua ausência nem sequer foi notada, excepto naquela vaga impressão que os dias já foram melhores que aquele branco informe a preencher o céu.
O que aconteceu depois ainda foi muito pior, todo o resto tornou-se numa divagação lenta e igualmente disforme, ainda que com quinas corrosivas. Foi quando a sucessão de nadas começou a impor-se, do tipo nada leva a nada e não há realmente no que falar, nem pensar, nem sentir.
E nem sequer era o nada, mas antes um nevoeiro que sufocava cada coisa dos seus contornos e fundia cada presença contra um fundo opaco.